terça-feira, 28 de julho de 2009

PARE DE SE LEVAR TÃO A SÉRIO.


Hoje em dia estamos vivendo a era do politicamente correto. Do cuidado com o que fala, do cuidado com o que escreve, do “vamos todos ficar certinhos e dar exemplo”. Não sei quando isso começou a virar regra, só sei que desde então o mundo ficou muito chato. Tão chato que pra essa opinião aqui resolvi reler o texto inteiro umas 5 vezes pra não ser mal interpretado.

Sim, pessoas adoram interpretar coisas erroneamente. Parece ser mais fácil criar novos significados maliciosos do que apenas ser literal na mensagem. Peraí, vamos entender melhor: politicamente correto é quando você tenta minuciosamente encontrar brechas pra ferrar alguém? Contraditório, né? Ou seja, ser politicamente correto é deixar a polêmica sempre ganhar do bom senso.

Aliás, esse termo já começa errado. Num país onde os políticos roubam descaradamente, fica difícil associar essa palavra a algo correto. Talvez por isso ninguém entenda o termo muito bem e apenas o sai executando. Afinal, o intuito é só achar polêmica, lembra?

Falo isso porque recentemente o Danilo Gentili, amigo meu e humorista, fez um comentário que teve “interpretações” racistas. Não vim aqui avaliar o teor da frase - que na minha opinião não foi nada maliciosa – mas sim comentar a consequência que isso gerou.

Sei que é assunto delicado brincar com raças. Tenho total noção do quanto isso representa para a história de um povo. Mesmo que o Danilo não tenha feito isso, citar uma raça numa frase já é motivo pros politicamente corretos de plantão ficarem alertas, procurando as suas brechinhas. Gostaria muito de viver num mundo em que os negros não tivessem sofrido tanto. Assim viveríamos num mundo igual. Inclusive nas brincadeiras. Mas isso não dá pra mudar.

Assim como não dá pra mudar o fato das mulheres terem sofrido tanto para atingir o merecido lugar que hoje estão. Portanto, também não mereceriam brincadeiras, certo?
Se você ri quando alguém brinca que MULHER não sabe dirigir e adere ao politicamente correto, então você é hipócrita. Pra ficar mais “correto” , vamos parar de brincar com Mulheres também. Elas também sofreram muito.

Gays então nem se fala. Não se brinca com uma comunidade que luta até hoje para conquistar seus direitos. Mas e se essa brincadeira serve para agregar todos ainda mais ? Não importa, é proibido.

Religião? Tá maluco? Qualquer menção a judeu e você vai preso. Aliás, escreveu judeu na frase acima, já é motivo pra processo. Então vamos evitar.

Brincar com características físicas? Não, isso é brincar com a diferença das pessoas. Se você brinca que seu amigo é narigudo e adere ao politicamente correto, então você é hipócrita. Mesmo que você seja gordo e esteja esperando uma resposta divertida? Não pode. Evite.

Sobrou brincar com o quê? Regionalismos? Não, o nordeste é sofrido também. Ahh, piada de gaúcho? Tá maluco, eles sofreram com a Revolução Farroupilha. Mineiro? Não se brinca com alguém que participou da Inconfidência. Vamos brincar com os cariocas?? Esquece, eles sofreram muito com os portugueses no final do século passado.

Pôxa, então vamos brincar com os portugueses. Hmmmmm… melhor não. Eles sofreram preconceito como colônia aqui no Brasil. Sem falar que na Europa, milhares morreram nas mãos dos franceses.

Esquece regionalismo. Vamo brincar com o futebol, que é paixão nacional. Mas com cuidado. Se ganharmos a Copa não podemos fazer chacota, por exemplo, com os franceses. Eles tiveram muitos problemas no passado com os ingleses…muitos morreram, melhor não brincar.

Vamos brincar então com as crônicas do dia. Falar de relacionamentos? Que tal? Hmmm, se bem que pega mal falar sobre isso numa época em que 76% dos casamentos acabam em divórcio. Acaba sendo um tema chato, né?

Celebridades? Não, expõe demais ao ridículo.

Políticos? Não se brinca com coisa "séria".

Vamo fazer piada de papagaio? Não, eles sofreram com o Ibama.

Piadas com ninjas? Não, a associação de ninjas do Brasil pode reclamar.

Mesas? Cadeiras? Posto de gasolina? Médicos? Trânsito? Ursos? Lixeiros? Não, alguém pode acabar saindo ofendido.

Então pra não ter mais problema, que tal evitar brincar com a vida? A gente poderia se levar cada vez mais a sério. Rir menos, se divertir menos, dividir menos mesas em bares. Por um lado seria mais “politicamente correto”, mas por outro a gente ia começar a sofrer pra caramba.


Ps: Facilitei a vida dos politicamente corretos de plantão e já destaquei os termos que poderiam gerar polêmica.