quarta-feira, 15 de julho de 2009

Dicionários.

A nossa lingua tem milhares de palavras. Que unidas a outras milhares, formam milhões. Que unidas com algumas de radical estrangeiro formam outras bilhões. Que unidas a 4 copos de cerveja não fazem a gente entender porra nenhuma. Por isso, para compreender melhor o que estamos falando, alguém com muito saco foi lá e criou o dicionário.

Lá temos a reunião de todas as palavras já inventadas na nossa língua. Quer dizer, quase todas. Não encontro, por exemplo, termos como “fudeu”, muito utilizado e apreciado por mim. Mas encontro palavras como “celeuma”, “inócuo” e “Brisaliantar”, esta última inventada agorinha mesmo e que passaria numa boa se eu não avisasse. Ou seja, pra quê tanta palavra? Pra brincar de Arnaldo Antunes e criar frases divertidas? A razão pra existir tanta palavra é uma só: existir os dicionários.

Pense: se as palavras são as mesmas, por que alguns dicionários vêm com milhares a mais? Eles fazem uma competiçãozinha pra ver quem ganha?

- Aí Aurélio, a gente precisa ter mais palavras que o Michaelis. Coloca aí “UABAUABA”
- Mas o que quer dizer?
- Sei lá, meu filho de 2 anos que falou isso ontem. Coloca como interjeição de medo.

E outra: qual o critério de seleção das palavras? Por que algumas não entram?

- Olha, não acho legal colocar essa palavrinha aqui: “Zumbiritar”. É uma palavra sem apelo comercial, sabe? Vai ficar lá no final, ninguém vai reparar. Vamos pensar numas opções com “R”? Elas aparecem mais fácil em cruzadinha.

Aliás, se tem uma coisa que odeio é intelectual de cruzadinha. O cara que só começa a falar bonito depois que aprendeu meia dúzia de palavras novas na revistinha Coquetel Nivel Médio. Que da noite pro dia, olha pra você e solta:

- Maurício, você não está imbuído no projeto.

Daí você não pode mostrar que não conhece o termo, responde:

- Tô SIM!!

Só que sem fazer ideia do que se trata. Aí sim o dicionário passa a ter função: você vai descobrir o significado da palavra. Ou tentar.

Você leva alguns minutos procurando até que o dicionário te explica direitinho o que “imbuido” significa. Você lê e tá escrito:

-Imbuido: o ato de imbuir.

Muito revelador. Daí você procurar Imbuir e tá lá:

- Imbuir: aquele que almeleia.

Daí você não sabe o que significa almeleia. Horas pra achar e tá lá:

- Almeleia: o mesmo que borigodofa.

Eles inventam as palavras pra você percorrer o dicionário inteiro. Por isso que tem o nome de alguém: Michaelis, Houaiss, Aurélio. É quem inventou as palavras. São autores. Dessa forma é fácil, pô.

- Are baba: aquele que are babeia.

Fica sempre naquela gincaninha. Página 278, página 236, página 45. Só faltou no meio ter uns patrocínios. Daí depois que você rodou o dicionário inteiro, chega na última palavra e lê:

- Zwalaléia: procurar imbuido.

Pior são os dicionários inglês-português pois, além de tudo, ainda são arrogantes. É mais ou menos um Aurélio que estudou na Wizard. Nunca falam a palavra óbvia. Gostam de mostrar que manjam um inglês Shakesperiano.

Todos sabemos que bonito é beautiful. Mas pro dicionário, não. Bonito é Sbrubbles. Quase como se você estivesse em Londres falando.

- Mas esse lugar aqui é deveras pitoresco, hein?

Nem um londrino sabe o significado de pitoresco. Imagino ele pegando o dicionário pra descobrir e ler:

-Pitoresco: procurar imbuído.